DEPRESSÃO E AFASTAMENTO DO TRABALHO

Ministério da Saúde alerta: sofrimento psíquico ligado a fatores laborais tem levado mais trabalhadores a atentarem contra a própria vida.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 90% dos casos de suicídio estão associados a distúrbios mentais, sendo a depressão o mais comum deles, seguida do transtorno bipolar e do abuso de substâncias. Já o estudo do Ministério da Saúde aponta que muitos dos transtornos são provocados por variáveis encontradas no cotidiano profissional.

É o caso de: acidentes que impossibilitam ao empregado exercer plenamente suas funções; jornadas excessivas; falta de estrutura, de reconhecimento e de incentivo; mudança de posição (ascensão ou queda) na hierarquia da empresa; fracasso; pressão superior; falta de tempo para executar tarefas e de oportunidade para manifestar satisfações e insatisfações.

Quando avaliada a ocupação dessas vítimas de distúrbios psíquicos, o Ministério da Saúde verificou que: 472 delas (5,5%) eram motoristas de ônibus; 249 trabalhavam como gerentes de agências bancárias; e, em terceiro lugar, 247 professores de jovens e adultos no ensino fundamental.

Fonte de prazer e de sofrimento:
A coordenadora nacional de Saúde do Trabalhador, do Ministério da Saúde, Karla Baêta, ressalta a necessidade de se ter qualidade de vida no ambiente de trabalho. 

”O trabalho ocupa um papel na vida das pessoas que vai muito além da relação salarial. O indivíduo se insere no meio social, tem a oportunidade de construir relações sociais. Trabalhar pode ser fonte de realizações e prazer, mas, dependendo das condições, também pode causar sofrimento e até a morte.” Ela admite que os dados sobre adoecimento mental ou suicídio relacionado ao trabalho, no Brasil, ainda são cinzentos, imprecisos. Existe especialmente a dificuldade em se estabelecer nexo causal, ou seja, definir que a causa do suicídio ou da doença mental é o trabalho e não outro fator. 

“Entretanto, sabe-se que há aumento de casos de suicídio entre os executivos de grandes corporações e no setor bancário. Provavelmente, esse aumento se deu pela reestruturação que o setor passou: privatizações em ambientes altamente competitivos, alta exigência de performances, intensificação de vendas e busca de resultados”, ressalta Karla Baêta. 

ara a coordenadora nacional de Saúde do Trabalhador, as empresas e instituições corporativas podem e devem motivar seus empregados e contribuir com campanhas de prevenção ao suicídio. “É importante que se olhe para o indivíduo, para o trabalhador. Mas também é preciso incluir as relações de poder e os modos de gestão do trabalho nesse olhar”, destaca Karla Baêta. “Geralmente são esses processos que levam ao adoecimento mental do trabalhador”, aponta. 

Um ambiente de trabalho negativo pode ser o gatilho para se desenvolver um quadro psiquiátrico, e isso aumenta a possibilidade de suicídio! 

Carlos Guilherme Figueiredo, diretor da Associação Psiquiátrica de Brasília, sugere formas de as corporações melhorarem seu ambiente de trabalho, salvaguardando a vida de seus colaboradores. “A empresa pode investir em hábitos saudáveis de vida e estimular a relação entre seus empregados, além de oferecer assistência e atendimento médicos”, lista o diretor da Associação Psiquiátrica de Brasília. “Mas o mais importante é estimular a procura por ajuda profissional quando se tem problemas psiquiátricos”, ressalta Carlos Guilherme Figueiredo. 

Tratamento é fundamental
Para o coordenador nacional da campanha Setembro Amarelo – mobilização global de prevenção ao suicídio realizada ao longo deste mês –, Antônio Geraldo da Silva, é preciso ajudar a população com prevenção, informando a importância do tratamento de todas as doenças mentais, principalmente as que possuem aumento de risco de atentado contra a própria vida. 

Transtornos mentais, em sua maioria, não são diagnosticados, são tratados de forma inadequada ou não são tratados de maneira alguma 

Mobilização e prevenção 

Há três anos, o Centro de Valorização da Vida (CVV), o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) uniram forças para combater um inimigo comum: o suicídio. Com esse objetivo, instituíram o mês de setembro como o período para se enfatizar a necessidade de prevenção ao ato de tirar a própria vida. 

Surgia, ali, o Setembro Amarelo, em sintonia com a Associação Internacional para Prevenção do Suicídio (IASP, na sigla em inglês), que comemora o 10 de setembro como dia mundial de mobilização e prevenção.

Segundo a neurologista da Upjohn, Elizabeth Bilevicius, para tratar a depressão e evitar o suicídio, o primeiro passo é ver a depressão como uma doença que precisa ser tratada. “Precisamos criar uma atmosfera de confiança para o paciente se sentir à vontade para dizer que tem a doença e legitimar o que ele sente como sintoma de algo que pode ser tratado. Essa é uma forma de encorajar a busca por ajuda adequada, criando um entorno social mais empático e melhor informado para ajudar essa pessoa”, disse. 

De acordo com as informações da Upjohn, mais de 90% dos casos de suicídio estão associados a distúrbios mentais e transtornos do humor. A depressão é o diagnóstico mais frequente, aparecendo em 36% das vítimas. O aumento dos casos entre os mais novos e com prevalência entre os homens faz da depressão a quarta maior causa de suicídio entre jovens no país. Outras doenças que podem ser tratadas, como o alcoolismo, a esquizofrenia e transtornos de personalidade, também afetam esses pacientes e por isso afirma-se que o suicídio pode ser evitado na maioria das vezes. 

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que o Brasil é o país com maior percentual de depressão na América Latina, chegando a 5,8% da população, o que corresponde a 12 milhões de brasileiros. A taxa é maior do que o valor global, que é de 4,4%. Igualmente maior do que em outros países, a taxa de suicídio entre adolescentes de 10 a 19 anos aumentou 24% de 2006 a 2015. A cada 46 minutos alguém tira a própria vida no Brasil.

O psiquiatra Teng Chei Tung,  coordenador dos Serviços de Pronto-Socorro e Interconsultas do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (HC-USP) e vice-coordenador da Comissão de Emergência Psiquiátrica da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), explicou que a alta incidência entre os jovens está ligada à grande expectativa externa e interna de que eles se comportem como adultos, mesmo sem ter ainda as habilidades de um adulto, e à pressão de que o adolescente seja pleno, potente, competente e reconhecido.

“Então ele faz as coisas, erra e se frustra. Nessas frustrações os jovens podem entrar na depressão. Os preconceitos são os mesmos e são agravados pela desinformação. Para o jovem existe a influência do pensamento de que a saúde mental é só uma questão social, existencial e psicológica”, afirmou. 

Teng disse que sentir tristeza é normal e que a frustração sempre traz alguma tristeza passageira, mas é preciso que as pessoas próximas fiquem atentas para perceber quando esse estado já se tornou uma depressão. Segundo ele, a tristeza é algo que gera introspecção, provoca reflexão e crescimento, mas o deprimido fica introspectivo por vários dias e semanas. 

“Um dos parâmetros é quando há sofrimento excessivo e quando começa a causar real prejuízo. Afeta as relações interpessoais, produtividade no trabalho, ou sofrimento individual, ou seja, a pessoa está sofrendo mais do que que precisaria naquela situação. Não é que não pode ter tristeza e emoção, mas isso não pode prejudicar a pessoa a ponto de afetá-la fisicamente”, destacou.

Para Teng, a melhor forma de falar sobre a depressão é deixar claro que ela é uma doença que apresenta alterações biológicas e fisiológicas, envolvendo fatores genéticos e estruturais, o que significa que a pessoa nasce com a tendência de desenvolver o quadro depressivo. O tratamento inclui, principalmente, melhorar o estilo de vida.

 “Quem tem depressão precisa se equilibrar e cuidar da saúde, para não ter de novo a doença”, disse o médico.

Para você que tem depressão ou conseguiu identificar alguns sintomas, procure ajuda. VOCÊ NÃO ESTÁ SOZINHO.

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